Direitos Humanos

Especialistas apontam desafios da Política Nacional de Migrações e pedem melhorias

Segundo o IBGE, apenas 5,5% dos municípios com presença de imigrantes oferecem serviço de gestão migratória

14/09/2023 - 11:16  

Em audiência pública no Congresso Nacional, debatedores apontaram falta de políticas públicas que levem a melhorias na recepção de imigrantes no Brasil. A discussão foi promovida na quarta-feira (13) pela Comissão Mista Permanente sobre Migrações Internacionais e Refugiados.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 5,5% dos municípios com a presença de imigrantes oferecem algum serviço de gestão migratória.

Bruno Spada / Câmara dos Deputadas
Debate sobre a regulamentação do art. 120 da Lei nº 13.445, de 2017 (Lei de Migração). Oficial de Proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Sílvia Sander
Silvio Sander pede abrigos específicos para receber refugiados

Para o procurador de Itajaí (SC) Jeancarlo Gorges, um dos problemas é o desconhecimento, por parte dos estados e municípios, sobre as condições sanitárias, econômicas, de saúde e educação da população imigrante. “O imigrante não pode ser o estranho. Se escolheu a nossa sociedade para se integrar, ele é um irmão”, afirmou.

O relator da comissão mista, deputado Túlio Gadêlha (Rede-PE), concordou que o País precisa evoluir nas medidas de acolhimento a imigrantes e refugiados. “Devemos oferecer serviços cada vez mais qualificados a essa população.”

Política Nacional de Migrações
A oficial de Proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) Silvia Sander disse que espera por melhorias a partir da Política Nacional de Migrações. Como sugestão, indicou a “construção de abrigos específicos para receber os imigrantes, oferta de cursos de português e criação de serviços como o Centro de Referência de Assistência Social (Cras)”.

Bruno Spada / Câmara dos Deputadas
Debate sobre a regulamentação do art. 120 da Lei nº 13.445, de 2017 (Lei de Migração). Coordenador Nacional do Fórum Nacional de Conselhos e Comitês Estaduais para Refugiados, Apátridas e Migrantes (Fonacceram), Roberto Portela
Roberto Portela: escola tem de acolher crianças imigrantes

Jeancarlo Gorges também apontou a dificuldade de comunicação enfrentada por imigrantes e refugiados no Brasil. O procurador exemplificou que, muitas vezes, o profissional de saúde se comunica com o estrangeiro por meio de um tradutor de celular. “Por que não prosperar a ideia de um processo seletivo que escolha um migrante para receber a população congênere e ajudar no acompanhamento?”, questionou.

Pensando no ambiente escolar, o coordenador nacional do Fórum Nacional de Conselhos e Comitês Estaduais para Refugiados, Apátridas e Migrantes (Fonacceram), Roberto Portela, destacou a necessidade de se lutar contra o preconceito e a xenofobia enfrentados por alunos imigrantes e refugiados.
“Se não tiver um acolhimento na escola, a criança vai sofrer processos de discriminação que serão carregados por toda vida”, declarou.

Integração
Outro ponto salientado no debate foi a importância de haver mais integração entre os entes federados e a sociedade civil em prol dos imigrantes. De acordo com a Lei da Imigração, as ações da Política Nacional de Migrações devem ser implementadas pelo governo federal em conjunto com estados e municípios, além da participação de empresas, órgãos internacionais e movimentos sociais.

A vice-presidente do Comitê Estadual Intersetorial de Políticas de Atenção aos Refugiados Migrantes do Rio de Janeiro, Eliane Almeida, defendeu a existência de uma política mais estruturante sobre o tema no País. “A gente precisa ter diretrizes que funcionem, se não para todos, pelo menos para a maioria dos imigrantes, independentemente da nacionalidade”, comentou.

Reportagem – Joana Lacerda
Edição – Marcelo Oliveira

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